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O envelhecimento demanda novas opções de moradias

A discussão sobre novos modelos de moradia para os idosos ainda é tímida no Brasil, mas a tendência é que se torne cada vez mais encorpada com o progressivo envelhecimento da população. Por volta de 2050, haverá 64 milhões de velhos no Brasil, mas, já em 2020, estima-se que o número de idosos que precisarão receber cuidados aumentará entre 30% e 50%. A maioria gostaria de permanecer em sua casa até o fim da vida, e isso tem uma explicação: são poucas e caras as opções de boas instituições de longa permanência, o nome palatável utilizado para espantar o preconceito que cerca lugares como casas de repouso ou, pior ainda, asilos. Este blog tratou, em mais de uma ocasião, sobre os efeitos negativos da solidão, daí a importância de refletir sobre o assunto. Vamos precisar de novos tipos de arranjos, e nem sempre os familiares serão os melhores, como alojar o avô ou a avó no quarto do neto ou da neta, deixando o idoso sem qualquer privacidade.

A longevidade produz diferentes grupos de velhos e cada um tem necessidades específicas, por isso devemos fugir de generalizações. Primeiro, vamos pensar no segmento mais jovem desse enorme contingente: as pessoas que estão se aproximando ou já entraram na casa dos 60. Com o orçamento apertado depois da aposentadoria, uma opção é dividir os custos de bancar a residência. Em Nova York há um programa (grátis) para achar, com segurança, alguém com perfil compatível para esse tipo de convivência. Metrópoles como São Paulo e Rio poderiam copiar a iniciativa.

Outra alternativa são os chamados “condomínios intencionais”, com a proposta de criar um espaço sob medida para esse público. A Vila ConViver, por exemplo, prevista para ser inaugurada em 2020, foi projetada para docentes da Unicamp acima dos 50, aposentados ou em vias de se aposentar. Esse é o modelo de cohousing, que surgiu na Dinamarca na década de 1960: a disposição das moradias é feita para facilitar a proximidade de seus moradores, com áreas de lazer comunitárias, mas garantia de privacidade. Você socializa quando quiser, mas há um sentimento de coletividade e pertencimento – até pelas afinidades profissionais do grupo.

A proposta de cohousing esbarra em restrições financeiras da maioria da população, mas há outras opções, como repúblicas de idosos, que podem incluir o serviço de cuidadores para quem apresenta algum tipo de limitação. Tornei-me fã do “The Green House Project”, adotado em mais de 20 estados nos EUA e elogiado por jornais como “The New York Times” e o “Washington Post”. Criado pelo geriatra Bill Thomas, o projeto praticamente reinventa os antigos asilos. São pequenas casas com ambientes familiares, onde a área de convivência é o coração da residência. Ali ficam a sala de estar, a de jantar e a cozinha. A mesa é comunitária, para que todos estejam juntos, mas com um toque de delicadeza: apesar de longa, é estreita, para que as pessoas possam ouvir quem está sentado à sua frente. Os quartos são individuais, com banheiro, e os moradores podem trazer os próprios móveis e decorá-los como desejarem – há vídeos para quem quiser fazer um tour. Investidores deveriam estar antenados nesse filão.